Estamos em 2050, não há nenhuma quarta guerra mundial. Os líderes mundiais conseguiram resolver a maioria das mazelas sociais. Os homens enfim perceberam que devem preservar o meio ambiente para sobreviverem mais e com qualidade. Nota se a amizade reinando entre todos os povos, principalmente nos do oriente médio que decidiram viver unidos em prol de um objetivo comum: Cultivar seus familiares vivos. Temos televisões que só comunicam boas notícias e transmitem programas culturais, filmes bons e antigos. Eliminamos os conservantes, acidulantes, flavorizantes, sentimos o gosto das coisas que temos na natureza preservada. Fomos à Lua, Marte, Júpiter e até em Plutão só pra perceber que aqui na Terra temos tudo. As crianças aprendem nas escolas conceitos de paz, honestidade, harmonia, sinceridade, justiça, retidão, integridade, boa fé, pureza, cordialidade... E aprendem. Não há mais preocupações idiotas com o enriquecimento individual, pois o capitalismo já derrocou a luz de um novo movimento que surgiu, um movimento diferente de todos os outros. O movimento Desistencialista.
Infelizmente estamos em 2010, essa projeção para um futuro é bem utópica e praticamente impossível de ser alcançada nesse curto espaço de tempo, em quarenta anos não aprenderemos senão a nos destruirmos uns aos outros num canibalismo acelerado, sem ética, sem respeito à faunas, floras, rios, crianças, próximos, e nem a nós mesmos. Continuaremos fabricando bombas, refinando urânio, incitando o consumismo, vendendo, lucrando, produzindo e destruindo tudo. Continuaremos convivendo com líderes de estados corrompidos, ambiciosos e egoístas que se sentem os donos do mundo. Ainda observaremos a batalha num oriente sem sentido por uma Terra Santa que não é nem nunca foi de ninguém, por uma crença que não salva coisa nenhuma. Conviveremos ainda com a bestialidade urbana alimentada por uma gênese descompromissada com valores morais. Nesse tempo, infelizmente, partilharemos ainda da anorexia dos africanos, favelados de Ruanda, Serra Leoa e demais agonias sociais espalhadas por esse chão por culpa de um insensível ser que insiste em pensar que é ele que está no centro do Universo verdadeiramente.
Desistencialismo, uma doutrina baseada dentre outros dogmas no episódio de que basta simplesmente existirmos sem grande alarde, sem causar danos ao próximo, ao distante, ao desconhecido. Um conceito amplo de vida fundamentado na opção de não precisar haver celeridade nem solidez em nada que possuímos, uma vez que isso não é nosso, nem nós mesmos temos a eternidade nas mãos. Temos que deixar essa desenfreada busca particular por status, dinheiro, beleza, conforto etc. Para buscar formas de conviver com o próximo no mesmo nível, pois agora somos todos iguais. Esse movimento ainda descontínuo em seu fundamento, mas alicerçado de ideais legítimos é a única saída para que possamos alcançar um dia a consonância da sobrevivência em sociedade. Desista, tente algo novo, pois tudo que foi fato terá que ser recomposto.